segunda-feira, 30 de abril de 2012

O brincar enquanto função mental

Renato Dias Martino
BrincadeiraDe forma comum normalmente se tem a ideia de que a brincadeira não passa de uma atividade que as crianças arrumam para preencher seu tempo, já que nada podem fazer de tão importante para o bem comum. Olhando por esse ponto de vista, as brincadeiras então, podem facilmente serem excluídas pelos adultos da vida da criança, como dispensáveis, quando existem outros interesses implicados na ocasião.
Entretanto, do ponto de vista psicológico, as brincadeiras são importantes ensaios de situações que a criança viverá no futuro e isso não está presente apenas nos humanos, mas, nos outros animais também é prática instintiva ensaiar, sem compromisso com o sucesso, os passos que deverá dar em direção à vida.
Brincadeiras infantis estão repletas de experiências fundamentais no desenvolvimento da mente e definem de forma muito importante traços da capacidade emocional.
Sentimentos de amor e ódio que permearão toda a vida da criança estão a sua disposição nas brincadeiras para serem conhecidos e experimentamos, sem que influenciem sua vida, de forma comprometedora. Durante suas experiências nas brincadeiras poderá matar ou amar loucamente tudo e todos que desejar, em sua imaginação. Situações de paixões arrebatadoras e sentimentos de intensa rivalidade, ainda proibidos para a criança, descobrem nas brincadeiras um laboratório de importância essencial.
A mulher que pôde brincar de ser mãe quando era menina e que desejou isso, cria um espaço interno que comportará essa função de forma muito bonita na vida adulta.
Da mesma forma, o garotinho que pôde lutar com o rival e aniquilar seu inimigo, em suas brincadeiras, têm maior chance de resolver problemas dessa ordem e não repetir esse tipo de comportamento de forma comprometedora em sua vida adulta.
Melanie Klein (1882-1960), pensadora austríaca, nome mais importante depois de Sigmund Freud (1856-1939) para a psicanálise, publica em 1932 A psicanálise da criança, onde propõe a ludoterapia como recurso principal no tratamento psicológico de crianças. A palavra lúdico, de onde vem ludoterapia, significa brincadeira e tem sua origem no Latim “illusio”, propondo a ilusão como o ensaio do que será real. A pensadora propõe a brincadeira como libertadora de sentimentos reprimidos na vida emocional da criança, permitindo uma adequação no seu funcionamento mental.
Nada mais banal do que os interesses que os adultos defendem; nada mais importante do que os temas das brincadeiras infantis.

Postado em 12 de abril de 2012


Nenhum comentário:

Postar um comentário