É recorrente a discussão sobre o papel dos pais e da escola na educação de
crianças e jovens. Parece um assunto já exaurido no âmbito da teoria. Na
prática, no entanto, há muito o que se realizar e cada qual tem um papel
primordial e intransferível nesse processo de participação para a construção do
conhecimento e para a formação de um modo geral.
O ponto conflitante parece ser os limites dessa participação. Até onde a escola
pode e deve ir e como a família deve se posicionar, se envolver e participar
para contribuir, efetivamente. Há limites e precauções que devem balizar essa
relação.
É possível extrair algumas lições das aprendizagens construídas na prática do
cotidiano escolar e importa ressaltá-las como forma de se socializar
experiências:
1ª lição: papel dos gestores da instituição
A equipe de gestores deve preparar-se, permanentemente, para implementar
diferentes estratégias de conquista da participação dos pais na escola para
muito além do acompanhamento do desempenho escolar de seus filhos. Isso é,
no mínimo, um dever do qual não se pode descuidar. Ressalta-se o
envolvimento dos pais em outros tipos de atividades educativas e de
socialização junto aos filhos, ao corpo docente e à equipe de gestores da escola:
almoços de confraternização, reuniões por séries com palestras de filhos para
pais, apresentando conhecimentos construídos no ambiente escolar;
participação de pais em atividades pedagógicas aplicadas e coordenadas pelos
filhos; enfim, propostas que envolvam sensibilização para a vivência dos
valores elementares difundidos na e pela proposta pedagógica da instituição.
2ª lição: papel dos professores
Inteirar-se e buscar compreender o real valor da atuação dos pais na escola,
quando reivindicam medidas e ações para qualificar os processos. Pais não
podem ser vistos como inimigos. Suas reivindicações precisam ser acolhidas
como contribuições para melhoria da prática e não entendidas como ordens de
quem quer mandar na escola. A construção desse outro tipo de olhar para a
questão é primordial para que se promova um diálogo realmente construtivo
entre pais e professores, sem prevenção de espíritos, sem antipatias ou
quaisquer sentimentos que compliquem as relações e bloqueiem soluções
inteligentes, promovendo mais desencontros e quebra de relações do que
encontros, que é o objetivo primeiro da escola.
Indispensável se faz, também, que os pais venham para esse diálogo de espírito
desprevenido, sem ataques verbais ou com tom de voz e expressões que
denotem acusação certeira de erro cometido pelo professor ou gestor. Esse tipo
de postura desencadeia reações negativas que, por vezes, inviabilizam qualquer
tipo de entendimento e, ainda, os pais acabam, inconscientemente, passando
uma mensagem aos filhos de falta de confiança na escola e em seus
professores. Isso pode contribuir para abusos, por parte de certos alunos, no
que tange a questões disciplinares e de respeito à autoridade escolar. Nessas
circunstâncias, é imperioso manter o controle das emoções, exercitar a
habilidade de escuta e busca de entendimento para o crescimento de todos. Isso
é educação.
3ª lição: limites da participação dos pais na escola
No meio educacional, somos todos sabedores de que há instâncias de
participação dos pais na escola. Isso, no entanto, não está e precisa ficar muito
claro aos pais pela equipe de gestores. Sugestões para melhoria dos processos
deverão ser sempre bem-vindas. O problema emerge quando alguns pais se
julgam no direito, porque pagam, de ditar normas, regras de convívio ou
palpitar sobre como devem se desenvolver os processos pedagógicos e a
organização curricular da escola. Aqui é a linha tênue. É onde, precisamente,
devem-se construir os limites. Os educadores fizeram investimentos pessoais,
ao longo de anos de estudos e preparação, para exercer a profissão com
autoridade de quem entende do assunto. Eles sabem o que é adequado e viável
pelos referenciais teórico-metodológicos que construíram e não por achismos”
característicos do senso comum.
Reside aí a importância de os pais conhecerem bem a proposta educativa da
escola antes de fazerem a opção pela mesma e confiar o suficiente para, diante
de possíveis problemas que venham surgir, buscar sempre a verdade dos fatos,
ouvindo os dois lados, comparando a versão do filho com a da escola para
compreender o contexto em que os fatos aconteceram e fazer seus julgamentos
pessoais.
Muitos pais ficam somente com a versão dos filhos e não investigam como se
desenrolaram os fatos do ponto de vista da escola. É, justamente, dessa postura
radical de só acreditar na versão dos filhos, que surgem problemas e conflitos
difíceis de elucidar e resolver.
Indiscutivelmente, o diálogo aberto, honesto, entre pais, educadores e gestores
é um desafio em qualquer organização educacional e a única via capaz de
conduzir ao entendimento, à superação e ao crescimento.
Marisa Crivelaro da Silva
Letras, pós-graduada em Psicopedagogia e
Docência do Ensino Superior, mestre em
Educação e possui MBA em Gestão
Educacional. Para entrar em contato com a
autora, mande um e-mail para
criversil@gmail.comFONTE: http://www.maristas.org.br/colegios/santana/download/educacao_em_revista/artigo.pdf.é graduada em
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